quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Transforma-se o amador na cousa amada- Luís Vaz de Camões


Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura  semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.



http://www.astormentas.com/PT/selecao/Lu%C3%ADs%20de%20Cam%C3%B5es

2 comentários:

Bolinho de arroz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bolinho de arroz disse...

O eu lírico começa o soneto com uma tese, se quem ama alcança uma identificação total com o ser amado, não pode desejar mais nada, porque já traz consigo tudo o que quer. Trata-se de um processo amoroso que o eu lírico vai se moldando à forma perfeita da mulher.
A mulher amada é caracterizada, como uma semideusa. Por isso ela se manifesta no pensamento do eu lírico como ideia.